quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

fim de semana de kolombolo

Nesta sexta-feira, dia 29, o Kolombolo se apresenta na Choperia do Sesc Pompéia. O show é parte do projeto Comunas do Samba, iniciativa do Sesc que homenageia as comunidades de samba na cidade, fundamentais para a preservação e propagação do ritmo. A apresentação contará com a presença de Thobias da Vai Vai, Ideval Anselmo, Zelão, Zé Maria do Peruche, Toinho Melodia.



Já no domingo, está de volta a Praça do Samba! A roda conta com a apresentação de sambas paulistas já consagrados e sambas dos compositores do Kolombolo - organizador da Praça. O evento é mensal e reúne, além da música boa, as Tias Baianas Paulistas com uma disputada e caprichada feijoada. Neste domingo a roda contará também com a presença de Marco Mattolo, Edu Salmado (Clube do Balanço) e Chapinha (Samba da Vela).

A feijoada é vendida a partir das 14h e o samba começa logo em seguida, às 15h. A praça fica na rua Belmiro Braga, s/n. (é uma travessa da cardeal arco verde e da inacio pereira da rocha)
Quem quiser ter um gostinho, segue o link:
www.youtube.com/kolombolosp
mais informações: http://www.kolombolo.org.br/

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Adoniran Barbosa

Este ano comemoramos o centenário do ícone do samba paulista Adoniran Barbosa. Em matéria publicada hoje, na Ilustrada, a Folha de S. Paulo revela um dos projetos em comemoração ao aniversário do sambista paulistano, autor das conhecidas "Saudosa Maloca" e "Trem das Onze".


Adoniran Barbosa tem obra revista em comemoração a centenário
MARCUS PRETOda Folha de S.Paulo

"Com a corda mi do meu cavaquinho fiz uma aliança pra ela, prova de carinho." Adoniran Barbosa (1910-1982), um dos ícones máximos do samba paulista e coautor (com Hervê Cordovil) de "Prova de Carinho", usou mesmo uma corda do instrumento para improvisar aliança à mulher, Matilde.
O mimo faz parte do volumoso acervo do artista, que entra agora em fase de catalogação e deve se tornar, até o próximo ano, a Casa Adoniran. O material estava, até agora, sob os cuidados do MIS, mas foi reavido pela família do autor.
"Não vou dizer que estava sendo maltratado [no MIS], mas abandonado, fechado", diz Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa, 72, filha e herdeira de Adoniran.
Em fase inicial de concepção, o museu não deve estar pronto a tempo de fazer parte das comemorações do centenário de Adoniran, que acontecem a partir deste mês.
Estão no pacote centenas de fotos históricas, contratos com emissoras de rádio, roupas, brinquedos que fazia com material reciclado e até a carteirinha de sócio do Corinthians.
"Há também centenas de scripts originais dos programas de rádio que ele fez desde a década de 30", diz Celso Campos Jr., autor de "Adoniran - Uma Biografia", que está sendo relançada. "Matilde era muito fã desses programas e pedia que ele levasse tudo para casa."
A vida de Adoniran também deve ser mote de documentário, com direção de Vange Milliet e Aline Safahara, e de musical no teatro, projeto comandado por Rubens Ewald Filho.
Apesar de ser reconhecido hoje apenas pela faceta musical, genitora de clássicos como "Saudosa Maloca" e "Trem das Onze", foi como ator --em rádio ou cinema-- que Adoniran viveu o apogeu popular.
Zuza Homem de Mello trabalhou com Adoniran na Rádio Record e diz que, naquele período, ele era "um astro". "Era o bambã da história, de uma versatilidade impressionante", conta. "Quando os programas eram feitos, eu recebia os scripts. E via a maneira impressionante como aquilo ganhava vida na voz dele."
A Record ficava no Centro, para onde convergiam todas as expressões criativas vindas da periferia. Andando por ali, Adoniran desenvolveu uma percepção do linguajar do paulistano mais popular. Despejava tudo nos personagens do rádio e, mais tarde, na música.
"Ele é o rap, o hip-hop. Justamente por causa dessa linguagem de rua", diz Mart'nália, que participa do CD-tributo a Adoniran, a ser lançado pela Lua Music. "Ele inventou o samba da feira, que vai falando. É música de falar papo reto."
Foi Elis Regina quem apresentou Adoniran a Rita Lee, que lembra: "Ele tinha aquele sotaque delicioso do Bexiga, fumava pra caramba, virava a cabeça quando um par de pernas femininas passava, mas não por cafajestice. Tive a impressão de que não sabia quem eu era, deve ter pensado que eu fosse uma amiga gringa da Elis que conhecia várias músicas dele."
Beth Carvalho gosta de jogar luz sobre a verve política do autor, exercitada em sambas como "Despejo na Favela" e quase sempre lançada a segundo plano. "Por ser um ritmo exuberante, ninguém percebe a tristeza das letras. O samba em geral é assim. O do Adoniran, mais ainda", diz a cantora.
É essa linha fina entre humor e tragédia que torna os sambas de Adoniran, segundo Cristina Buarque, tão difíceis de ser interpretados. "A coisa é engraçada e é triste, não pode exagerar nem para um lado nem para o outro", diz. "É barraco que despenca, é gente despejada. Mas é tudo muito atual. O mundo continua igualzinho, reparou?"

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Janeiro tem samba

Salve, salve.

Depois do período de festas a cidade de Sâo Paulo será presenteada com um mês especial repleto de shows. É o projeto
Comuna do Samba.

Os SESCS Pompéia, Ipiranga, Consolação, Santo André vão receber algumas das inúmeras comunidades da cidade, que tiveram papel fundamental para a preservação do samba na última década.

Para quem quiser curtir esse final de semana, seguem as dicas:


Projeto Samba Autêntico – part. Virgínia Rosa

SESC Pompeia - Dia(s) 08/01-Sexta, 21h.

Tias Baianas Paulistas - part. D. Inah e Kolombolo

SESC Pompeia - Dia(s) 09/01- Sábado, 21h.

Tereza Gama

SESC Consolação - Dia(s) 09/01 Sábado, às 16h30.

Samba Passado de Glória

SESC Santo André - Dia(s) 10/01 Domingo, às 16h.

__

mais informações - www.sescsp.org.br

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Periferia renova samba de São Paulo

As comunidades de samba em São Paulo tem papel fundamental na propagação e perpetuação do samba na capital. Elas têm aparecido com frequência no cenário do samba aqui na cidade e demonstram a capacidade de manutenção e recriação constante do ritmo.
.
As comunidades já eram vistas na década de 60 com a manifestação carnavalesca dos Cordões. Durante décadas aconteceram reuniões nos dias de festas religiosas negras nos bairros paulistanos da Barra Funda e do Jabaquara. Porém, com a oficialização do carnaval foi redigido um regulamento de disciplina que obrigava todos os cordões a se transformarem em movimentos semelhantes aos do Rio de Janeiro, as escolas de samba. As manifestações culturais mais espontâneas e populares ligadas ao samba perderam espaço pelo grande destaque que foi dado às escolas.
.
Um processo inverso tem ocorrido a partir da década de 90. Os movimentos começaram a reaparecer, mostrando a força do ritmo musical como agente comunitário e agregador de valor cultural. Para José Alfredo Gonçalves Miranda, o Paquera, a importância desses movimentos é valorizar a cultura e a identidade cultural do País, além de determinar o samba como um ritmo independente do carnaval. Ele é fundador de uma das mais representativas comunidades, o Samba da Vela, e tem o ritmo como condutor de seus projetos profissionais e pessoais.
.
Comunidades como o Samba da Vela, Kolombolo, Samba da Laje, Samba da Tenda, Samba D´elas, todas em São Paulo e o Núcleo Cupinzeiro, em Campinas, têm projetos voltados ao resgate das raízes do samba paulista e realizam um trabalho educativo e cultural com relação ao ritmo. Suas atividades apresentam a história dos batuques, seus compositores e músicas para o enriquecimento das rodas atuais, como uma forma de resgatar e registrar o passado, até então pouco conhecido, e moldar um futuro com o samba tradicional. “As raízes do samba paulista podem, nesses espaços, serem conhecidas e partilhadas pelas novas gerações proporcionando, assim, o aparecimento de sambistas jovens de qualidade porque criam músicas contemporâneas, que se embasam nas tradições passadas conhecidas e absorvidas nestes espaços”, diz a antropóloga Olga Von Simson.
.
Grande parte dos movimentos que existem hoje foram idealizados por mulheres. “Muitos se originaram de iniciativas femininas em busca de melhores condições de vida para os bairros de regiões periféricas das grandes cidades”, explica Olga.
.
Na Folha de S. Paulo de ontem, dia 10, foi publicada uma matéria interessantíssima sobre o reencontro de sambistas do mutirão, movimento iniciado em 1997 para "resgatar o samba" que estava ofuscado pelo crescimento do pagode e que originiou a maioria das comunidades atuais.
.

Movimento surgiu no fim dos anos 90, com foco no samba de raiz, na formação de novos talentos e novas composições
Encontro Mutirão do Samba impulsiona novos sambistas, como Douglas Germano, Adriana Moreira e Marquinho Dikuã
THIAGO MENDONÇA- COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A tarde chuvosa de anteontem não impediu a descontração do encontro, que começou com atraso devido aos alagamentos. Na mesa do bar estavam representantes de algumas das comunidades de samba de São Paulo, movimento que tomou conta das periferias.
.
Presentes Selito SD, do Projeto Nosso Samba de Osasco, T.Kaçula, da Rua do Samba Paulista, Babalu, do Samba da Laje, Marquinhos Dikuã, do Samba de Todos os Tempos, Marquinhos Jaca, da Vai-Vai, e Caio Prado, ex-Projeto Nosso Samba. Adriana Moreira, uma das belas vozes desta geração de sambistas, avisa que ela e Douglas Germano não conseguirão vir por conta da chuva. Entre sambas e risadas, eles contam a história do novo samba paulista.
.
Nos anos 90, surgiram os primeiros sinais de saturação do pagode comercial. Ao mesmo tempo, as escolas de samba vinham deixando de agregar compositores para se tornarem um triste pastiche dos desfiles cariocas. Não havia mais espaços para os compositores. Alguns anunciaram a morte do samba, mas ele sobreviveu tímida e desorganizadamente nos quintais e botecos da periferia paulistana.
.
Em 1997, surgiu o Mutirão do Samba, um encontro de sambistas, visando o culto ao samba de raiz, a formação de novos talentos e a exibição de novos sambas. Douglas, um dos fundadores, via ali um estímulo à criação. "O Mutirão nasceu com a vontade de registrar nossa própria história. Neste grupo de 32 pessoas havia compositores, percussionistas de escola de samba e de botequim, instrumentistas, cantores."
.
Surgia algo novo em São Paulo. "Uma roda com composições próprias, que era ao mesmo tempo um encontro e um espaço de formação", lembra Adriana. O mutirão durou três anos e dali saiu toda uma nova geração de compositores e músicos, alguns com trabalhos autorais, como Adriana, Douglas e Kiko Dinucci.
.
A experiência do Mutirão serviu como inspiração para a formação de uma série de novas experiências. Projeto Nosso Samba, Samba da Vela, Samba Autêntico, Samba da Laje, Samba de Todos os Tempos, entre dezenas de comunidades. "Surgiu uma série desses núcleos, a partir do samba tradicional", conta Selito. "Ninguém aguentava mais aquela mesmice dos anos 90", diz Kaçula. "A vulgarização das letras a repetição das fórmulas de sucesso."As comunidades são um culto às batucadas, uma retomada do samba a partir da tradição, que gerou uma nova sonoridade paulistana.
.
O movimento desencadeou também a busca de um samba com sotaque próprio, livre do samba do Rio. Caio Prado identifica a ideia de morte do samba com o culto excessivo ao passado do samba carioca. "Queríamos um samba com ideias nossas, literatura nossa, que falasse do nosso cotidiano."
.
O novo samba paulistano procura ser a crônica de seu tempo e espaço. Como observa Marquinhos Jaca, "tem gente que usa roupa de bamba da antiga, agindo como se vivesse em 1954. Nosso samba tem que retratar nossa realidade".
.
Marquinho Dikuã acredita que as comunidades possam abrir uma nova possibilidade para sua geração de sambistas. Está em curso um boom de independente de discos de samba. "Hoje há em São Paulo 30, 40 comunidades de samba que reúnem por ano 300 a 400 mil pessoas. Temos público." Caio coloca um porém: "A gente conseguiu se reunir para produzir, mas essa produção não consegue ser escoada. A pergunta é como quebrar a barreira e cair nas graças do povo."


terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Simpósio Paulista do Samba e Cidadania

A Universidade da Cidade de São Paulo (UNICID), será palco de um dia de apresentações/discussões sobre o samba como patrimônio histórico da cultura brasileira (se é que alguém duvida disso) e também da utilização das quadras de escola de samba como estratégia cultural e a inclusão destas no roteiro turístico de visita para a Copa do Mundo de 2014. Para nossa surpresa, as mulheres no samba serão tema de uma das apresentações!

Entre os palestrantes, a Profª Olga Simson e Nelsinho Crecibeni (Origem do Samba Paulista), Osvaldinho da Cuíca e Carlos Costa (Samba tradição e Modernidade), Moisés da Rocha e Evaristo de Carvalho (O Samba na Mídia), Maria Aparecida Urbano e Maria Helena Britto (Mulheres do Samba), Sebastião Araujo e João Carlos de Oliveira (O Samba como fonte de trabalho e renda), Profº Juarez da Unicid e Profª Anair Novaes do Cone (A Escola de Samba, o Samba na Escola - Lei 10.639), Luiz Sales da SPTuris e Kelly Oliveira do SESC Ipiranga (O Samba no calendário turístico de São Paulo), Dr. Luiz Antonio Marrey da Secretaria de Estado da Justiça e Defesa da Cidadania e Sra. Quenis Gonzaga da Secretaria Geral do Governo Federal (Samba e Cidadania).

Data:12 de dezembro, das 9 às 16 horas
Endereço: Rua Cesário Galeno, 448/475, Tatuapé -,
Inscrições no local

Parte da Manhã
Mesa 1 - Origem do Samba Paulista
Mesa 2 - Samba tradição e Modernidade
Mesa 3 - O Samba na Mídia
Mesa 4 - Mulheres no Samba

Parte da Tarde
Mesa 5 - O Samba como fonte de trabalho e Renda
Mesa 6 - Escola Samba, o Samba na Escola ( Lei 10.639)
Mesa 7 - O Samba no Calendário Turístico de SP
Mesa 8 - Samba e Cidadania

Apoteose
Escola de Samba Acadêmicos do Tatuapé
Horário : 16:30
R. Melo Peixoto, 1513 - Tatuapé - São Paulo

As inscrições podem ser encaminhadas para o e-mail :
falanegao@itelefonica.com.br

terça-feira, 24 de novembro de 2009

o livro!

Amigos e amigas,

Esse ano foi corrido, cansativo, estressante. Abrimos mão de viagens, baladas e comemorações para nos dedicarmos ao nosso tcc e agora que ele está pronto, queremos compartilhar com vocês!

O título do livro é "Elas e o samba - a presença feminina nos batuques de São Paulo", e no próximo sábado, dia 28, às 15h, o grupo Samba de União fará um "sambinha" para mostrarmos o resultado desse 1 ano de trabalho e comemorar com os amigos mais queridos e que nos apoiaram neste período.

A entrada será 10 reais e o $$ será revertido para bancar nosso projeto. O endereço é Bar Célia - Rua: Vitorino de Moraes, 517 - Chác. Santo Antônio.

Contamos com vocês.
Joyce Juliana Luiza Renata

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

maria esther - a maria do samba

Como já contamos por aqui, criamos esse blog para falar sobre o samba de São Paulo por conta do nosso Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Enquanto desenvolvíamos o projeto, percebemos que se sobre o samba paulista há poucos registros, menos ainda sobre a presença das mulheres nas rodas.
Assumimos o desafio de buscar personagens que vivem para, do e pelo samba. Conhecemos jovens, senhoras, crianças, cada uma com um motivo diferente para justificar a sua paixão e envolvimento. Já estamos na reta final do livro-reportagem, mas há algumas semanas nos deparamos com um personagem que participação no livro é essencial, como foi na história do samba.
Maria Esther Camargo Lara, Maria do Samba, Dona Esther. Fomos até Pirapora do Bom Jesus, uma das cidades que samba paulista começou se desenvolver, para conhecer a simpática, doce e geniosa mulher.

Chegamos na cidade por volta das 10h e fomos procurar a casa de Esther. Ela não nos deu o endereço, disse que era só perguntar na rua que todos sabiam onde morava a Maria do Samba. Depois de abordar alguns moradores, encontramos a casa vinho, com moldura em azul e janelas fechadas. Na porta, um oratório, com enfeites de natal, miniaturas de violões e máscaras de carnaval penduradas.

Depois de algumas palmas, ela nos atende. Rosto carregado de maquiagem, sobrancelhas perfeitamente traçadas por um delineador, brincos, anéis e roupas elegantes, mas gastas pelo tempo. Explica que prefere um lugar mais calmo para a entrevista e sugere a casa de uma amiga. Segundos depois muda de ideia e sugere um pesqueiro e restaurante para o bate-papo. “É longe, mas é pertinho, em uma hora estamos lá”.
Durante o caminho, Esther vai mostrando os pontos turísticos e contando um pouco sobre a história da cidade.Ela nos apresenta o lugar com tamanha intimidade que parece ser a anfitriã. Depois de prometer ao dono que volta para o almoço, seguimos para a beira do rio e começamos o bate-papo. Sentada no chão, ela parece à vontade, mas não larga a sua bolsa e uma sacola com alguns textos sobre a história do samba, que ela mesma escreveu.

Longe dos vizinhos, ‘todos fofoqueiros’, a sambista fala baixo. A história do samba paulista se mistura completamente com a dela e seguir uma ordem cronológica fica praticamente impossível. É difícil precisar as datas reveladas por ela, pois todos os momentos memoráveis aconteceram aos 15 ou 16 anos e pouquíssimo dessa história foi documentado por estudiosos e pesquisadores.

Esther conta da dificuldade que tinha com o pai, um “caipirão”. A rainha apanhava de vara de marmelo quando surpreendida nos barracões, faltando à escola para acompanhar as batucadas. Em uma de várias surras, um dos músicos do barracão intercedeu pela garota. “Não bate na menina, deixe ela ficar aqui”, pediu ao pai de Esther, que tinha apenas 12 anos e diversas marcas das surras que levara com a vara. Mesmo havendo preconceito com a presença de brancos no local, os negros ficaram com dó de Maria Esther e a deixavam entrar no samba.

Na mesma época, ela conheceu Honorato Missé, fazendeiro branco e de muita influência local. Frequentador da festa e também das batucadas, Honorato Missé resolveu desenvolver um novo batuque, que Esther chama de samba de branco, conhecido posteriormente como samba de bumbo. Vendo a participação ativa da menina nas rodas, Missé a convidou para participar desse desenvolvimento e não demorou para que ela logo estivesse nas danças com o bumbo ou com chocalhos e colheres.

No inicio, Esther não sabia os passos e imitava as coreografias feitas nos barracões. “Eu não sabia dançar, só mexia a bunda, como tinha aprendido com as negras”. Da convivência com essas mulheres, a sambista também herdou a fé na Umbanda. Apesar da família tradicionalmente católica, as influências a levaram a ser mãe de santo. Foi numa das festas que ela conheceu Madrinha Eunice, fundadora da primeira escola de samba da cidade de São Paulo, a Lavapés.

Em 1994, Esther fundou o grupo Samba de roda, uma das atrações principais da festa de Bom Jesus do Pirapora, no mês de agosto. Nas apresentações, as mulheres dançam e mexem suas saias, algumas até se arriscam nos instrumentos, mas a predominância é masculina.

A simplicidade se revela também no modo de comer. Ela só usa colher e come com muita calma, em meio às brincadeiras com a cozinheira do lugar. Quando a moça se distrai, Esther abre a sacola plástica e despeja toda a comida que estava em seu prato. “É para o jantar. Ou para o meu vizinho. Coitado, ele passa muita necessidade”.

Voltando para a cidade, Esther apresenta o Espaço Cultural Samba Paulista Vivo Honorato Missé, casa simples que, além de abrigar fotos dos romeiros que visitavam a cidade e as primeiras festas nos barracões, tem na entrada um busto de uma das principais representantes do samba em Pirapora: Maria Esther Camargo Lara.

A casa está cheia, e assim que ela chega, o samba vira segundo plano. As atenções se voltam para ela. Muito simpática, tira fotos, abraça alguns participantes e dança. Uma presença típica de rainha. Quem a vê rodando a saia percebe que a menina que fugia aos barracões ainda comanda o rebolado da senhora.
* agradecimento especial para Renan Rodrigues!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Ideval Anselmo

Paulistano, nascido em 18 de setembro de 1940, em Catanduva, interior do Estado, Ideval Anselmo iniciou sua trajetória no mundo do samba em 1969, ano em que desfilou com o Camisa Verde e Branco o enredo ‘Biografia do Samba – O samba através dos tempos’. Em 1972, o sambista teve a oportunidade de compor seu primeiro samba enredo também no Camisa Verde e Branco e emplacou a letra ‘Literatura de Cordel’. Desde então, suas composições ganharam participações nos desfiles do grupo especial e desfilaram pelas passarelas da cidade paulistana como a Av. São João e Av. Tiradentes.
Ao lado de parceiros, como Zelão, Miro, Jordão, Carlinhos, Soró e outros, criou alguns dos clássicos que marcaram história do carnaval e do samba de São Paulo, como “Narainã”, “A Lua” e “Cabaré”. Consagrado, em novembro de 2005, o maior campeão de sambas de enredo de são Paulo, foi convidado a integrar a Embaixada do Samba Paulistano e participou da gravação da coleção Memória do Samba Paulista. No mesmo projeto gravou o disco, ainda inédito, “Ideval Anselmo e Zelão”.
Para comemorar 40 anos de samba, o Sesc Ipiranga traz nessa sexta-feira, dia 23, às 21h, Ideval Anselmo e os convidados Fabiana Cozza, Thobias do Vai Vai e Zelão.

sábado, 17 de outubro de 2009

Zeca Pagodinho - Uma Prova de Amor

Matéria publicada na quinta-feira, dia 15 de outubro, no Caderno 2, do jornal O Estado de S. Paulo. A reportagem faz uma análise geral sobre a produção do novo DVD ao vivo de Zeca Padoginho, sua nova forma de boêmia e sua vida pessoal, Uma Prova de Amor.
O DVD custa em média R$ 35,00.

Zeca, ‘boêmio matinê’ em registro

Por Roberta Pennafort

Uma Prova de Amor, o novo DVD ao vivo de Zeca Pagodinho, começa com uma reflexão sobre suas “duas personalidades”: o Zeca da família, cada dia mais quieto, e o da rua, do bar, que ainda faz das suas, ele explicou na entrevista de lançamento.
Ele canta seis das faixas do CD homônimo, que saiu há um ano, Uma Prova de Amor, Normas da Casa, Esta Melodia, Eta Povo pra Lutar, Ogum e Então Leva, além dos clássicos Deixa a Vida Me Levar, Seu Balance, Não Sou Mais Disso, Faixa Amarela, Vai Vadiar, Vivo Isolado do Mundo, Coração em Desalinho e Verdade.
Dirigido por Rildo Hora e Paulão 7 Cordas, o show foi gravado em julho, no Citibank Hall, no Rio. Zeca está à vontade, cercado dos músicos com quem convive há anos. E sem marcações, ao contrário dos últimos dois DVDs com o selo MTV (Acústico, 2003, e Gafieira, 2006), como este também tem. “Ele não quer saber de repetir música porque o vídeo vai ficar melhor”, conta, nos extras, Joana Mazzuzzhelli, a diretora dos três.
Ele chamou os amigos Almir Guineto e Jorge Ben Jor, além da Velha Guarda da Portela, que o acompanhou em várias faixas. Com Guineto, canta Lama nas Ruas, composta pelos dois 20 anos atrás. Com Ben Jor compartilha um momento lindo: ele se emociona e chora ao registrar a Oração de São Jorge, ao fim de Ogum (Claudemir / Marquinhos PQD), e Zeca lhe dá um abraço afetuoso.
Para animar a festa, de improviso, os dois cantam Taj Mahal. “Não tava combinado! O show tem que ser assim!”, brinca Zeca, que reclama das exigências do formato do DVD. “Querem fazer de mim o que não sou! Não sou cantor, eu gosto de samba. Eu desafino, fico rouco...”
A silhueta aparece mais delgada no show. São dez quilos a menos, resultado de dieta para reduzir o açúcar no sangue que o levou a cortar pães, doces, refrigerantes, menos a cerveja.
Casado há 22 anos, pai de quatro filhos, o pagodeiro fez 50 anos em fevereiro, e segue comemorando. “Tô muito feliz. Fiz muita noitada, mas agora sou boêmio de dia, boêmio matinê. O problema é que quando eu vou pra rua é um Deus nos acuda...”

domingo, 4 de outubro de 2009

Ícone do Samba - Geraldo Filme

Amanhã, dia 05 de outubro, a PUC-SP e a escola de samba Unidos do Peruche realizam mais um evento do projeto Ícone do Samba, que segundo notícia divulgada no site da faculdade, visa à valorização dos artistas deste gênero musical e o resgate da memória do samba nacional.

A primeira edição, realizada em 2008, homenageou os 100 anos de Cartola, e dessa vez o homenageado é o sambista paulistano Geraldo Filme, figura marcante na história do samba paulista.

Geraldo Filme nasceu em 1927, no bairro de Campos Elíseos, em São Paulo, e aos 10 anos de idade, compôs seu primeiro samba: “Eu vou mostrar, eu vou mostrar, que o povo paulista também sabe sambar...”. Foi a maneira que o compositor e instrumentista arrumou de chamar a atenção do pai, Sebastião, para a importância do samba paulista, já que este era um amante assíduo do carnaval carioca. Para quem quiser conhecer um pouco mais sobre esse lendário do samba, vale a pena, assistir o documentário “Geraldo Filme”.

Programação:

Dia 5/10, no campus Santana

Geraldo Filme: A repercussão de sua obra no samba paulista

– Abertura (19h30):
Prof. Wagner Abrão Martins (diretor do campus Santana), representantes da Pró-Reitoria de Cultura e Relações Comunitárias e representante da Peruche

– Palestras (20h):
Sr. Carlão da Peruche (As contribuições de Gerlaldo Filme para a Peruche)
Osvaldinho da Cuíca (O samba de Pirapora e o samba de Tietê)
Thobias (A "passagem" de Geraldo pela Vai-Vai)
Prof. Ricardo Zanotta (Universidade e samba)
Moisés da Rocha (síntese)

– Apresentação musical e encerramento (21h45)

Doc. Geraldo Filme (Trecho)

domingo, 27 de setembro de 2009

aprendendo samba paulista

samba samba samba...
à primeira vista parece apenas um monte de instrumentos misturados e tocados aleatoriamente. à segunda, terceira, e depois é um universo que nos revela grande valor histórico e tradição.
.
o projeto inicial do nosso livro-reportagem era contar a história do samba paulista, pela falta de material documento no mercado. aí, pesquisamos, pesquisamos e pesquisamos, e vimos que se quase nada tinha do samba de sp, menos ainda tinha das mulheres. mudamos o tema, mas o interesse pela historia do nosso samba já tinha sido despertado...
.
Ficamos intrigadas com a frase "São Paulo é o túmulo do samba", proferida pelo poeta Vinícius de Morais. Depois, indignadas, porque aqui se faz samba sim. E dos bons.
.
marcha sambada, samba rural, pirapora, jongo, umbigada, candomblé, mistura de povos. palavras-chave da batucada paulistana. No especial de carnaval do UOL, Marcelo Tás entrevistou um dos grandes ícones do ritmo na capital: Osvaldinho da Cuíca. Uma aula de samba.
.
Vale a pena assistir, ouvir como era a marcha, qual a diferença do batuque carioca e o de sp, e a incrível "parceria" de Osvaldinho com a banda Sambô, tocando Led Zepellin em ritmo de samba.
E concordar com o mestre batuqueiro "São Paulo não é o túmulo, e sim o cúmulo do samba".
.
viva o samba paulista!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Caráter Integrador

Na busca por entender um pouco sobre a história, as origens e o desenvolvimento do samba paulista, lemos artigos e mais artigos e também bons livros, que encontramos no mercado editorial, já que esse se apresenta bastante escasso quando o assunto é samba na cidade de São Paulo.

Um dos artigos que lemos chama-se “O Samba Paulista e Suas Histórias”, desenvolvido pela pesquisadora do Centro de Memória / Unicamp, Olga R. de Moraes von Simson. No texto Olga discorre toda a trajetória do samba paulista com letras de música exemplificando os principais marcos. Porém, o que nos chamou bastante a atenção, já que isso também será trabalhado em um dos capítulos do livro, é a importância dos trabalhos realizados pelas comunidades do samba na terra da garoa.

“Eles realizam um trabalho importante de formação de público, tornando jovens, adultos e idosos que participam de rodas de samba, pessoas conscientes, atuantes e crtíticas em relação à produção sambística atual. São pessoas, que embora passando a valorizar a ancestralidade e a tradição, apreciam também os novos sambas que, com raízes fincadas no passado, falam de temas da contemporaneidade. (...) Assim, ligando o passado ao presente, eles nos mostram a força das nossas origens, a beleza da nossa memória comum e as possibilidades de sambar com alma, com prazer, mas também com consciência.”

Temos notado claramente esse trabalho por parte das comunidades e a preocupação que elas têm em manter a tradição ou pelo menos a história do samba paulista, muitas vezes admirável. Ontem, uma frase fez bastante sentido em relação ao que notamos aqui e o pouco que pudemos observar no Rio de Janeiro. “Aqui (em São Paulo) o samba tem evoluido bastante com o trabalho das comunidades, já no Rio eu acho que a coisa é mais bairrista, não tem esse espaço”, comentou Bruno Esteves, mais conhecido como Minduim e um dos integrantes do grupo Samba de União.

Pelas nossas andanças em alguns sambas e também comunidades notamos que tem sim muita gente boa chegando no samba paulista, de diferentes formas, alguns com a pegada mais carioca. Essa influência é inevitável e positiva quando bem aproveitada, mas a grande maioria demonstra consciência em relação ao papel do samba na sociedade, que como Olga mesmo denomina - caráter integrador. Uma filosofia de vida.

O próprio símbolo utilizado pelo grupo Samba de União comprova essa integração, a união entre as partes. Podemos até viajar um pouco mais e pensar que essa integração vai além das festividades e dos batuques atuais. Ela começou com a migração dos negros para a capital paulista, que enfrentaram resistência da elite que não aceitava influências culturais de migrantes, muitas vezes negros e com condições sociais financeiras mais delicadas.

O samba acontecia então em curtiços e terreiros, já que as rodas eram proibidas e mal vistas pela maioria da sociedade por representarem a figura do malandro, do homem que não fazia nada, apenas farreava na noite. Apesar da predominância de descendentes de negros, o samba já acolhia brancos e caboclos - como Germano Mathias, por exemplo, em redutos como Bexiga, a Barra Funda, o Brás e o Largo da Bananeira.





terça-feira, 22 de setembro de 2009

Kolombolo - Renato Dias

Na semana passada, encontramos o sambista Renato Dias, na Vila Madalena. O intuito do encontro era explorar e conhecer um pouco mais a história do samba paulista e o trabalho que ele desenvolve com Max Frauendorf e Ligia Fernandes desde 2002, o Kolombolo - entidade sem fins lucrativos que se propõe a divulgar a batucada paulista.

Renato, como o próprio texto disponível no seu site diz, traz na sua trajetória a forte influência do samba inspirado nas batucadas das giras de Candomblé, sua religião presente nas guias usadas no pescoço e nas descrições da presença no samba paulista com a chegada dos escravos no interior e na capital.

Conhecedor da história do samba paulista, Renato se mostra, além de observador e ávido por novos projetos – o que o objetivou a fundar com os seus parceiros o Kolombolo – a sua vontade por mostrar ao público o samba desenvolvido aqui.

O que nos estimulou a procurar o sambista foi a nossa surpresa após comparecer no encontro realizado pelo Kolombolo, no último final de semana do mês de agosto, na Praça do Samba. Quantas mulheres dentro de uma única roda! Durante esse nosso projeto pudemos comparecer em algumas rodas e infelizmente a presença feminina ainda se mostra pequena e sem voz perante a maioria masculina. Porém, no Kolombolo notamos que a mulherada está sim presente e o melhor: de todas as formas, compondo, tocando, cantando...

A entrevista com o Renato durou cerca de 1h30, dentre inúmeras perguntas, risadas, compartilhamento de ideias, o questionamos sobre o preconceito contra as mulheres nas rodas e contamos sobre a nossa admiração ao ver que lá esse quadro já era bem diferente. Renato nos disse que já houve muito machismo no samba, que hoje sente isso muito mais leve, mas que nota ainda um preconceito contra as mulheres que tocam, “alguns ainda teimam em achar que elas não vão aguentar o tranco, que vão querer parar no meio da roda, mas aqui no Kolombolo é diferente, tem mulheres que tocam muito melhor que os homens e não priorizamos o sexo e sim a capacidade ou mesmo a vontade da pessoa em aprender e desenvolver um trabalho bacana”, afirma o sambista.

Para os que quiserem acompanhar um dos encontros realizados pelo Kolombolo, no dia 27 de setembro, próximo domingo, a partir das 15h, na Praça do Samba – Rua: Belmiro Braga, s/n, Pinheiros.

Segue também uma matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo, no dia 9 de setembro, sobre o trabalho “Projeto Memória do Samba Paulista”, desenvolvido pelo Kolombolo.

As diversas batucadas feitas na terra da garoa

Projeto Memória do Samba Paulista lança primeira leva de 12 CDs que registram as obras de Toniquinho Batuqueiro, das velhas guardas e de outros compositores

Francisco Quinteiro Pires

Nos anos 1940, quando Carlos Alberto Caetano e outros moradores da zona norte queriam sambar, tinham de atravessar o Centro para participar dos desfiles de escolas como Lavapés e Campos Elísios. Insatisfeito com a diretoria da Lavapés, Carlos fundou a Unidos do Peruche, em 1955. Nas décadas seguintes, ele se tornaria o Carlão do Peruche, um dos sambistas mais importantes de São Paulo.
Ouça trecho de TristezaDe outra insatisfação nasceu, em 2002, o Kolombolo, entidade sem fins lucrativos que se propõe a divulgar a batucada paulista. Em parceria com a ONG Sambatá, que explora a ascendência africana na cultura nacional, Kolombolo criou o Memória do Samba Paulista, série de 12 CDs, distribuídos pela Tratore, com as composições de sambistas paulistas e das velhas guardas. A direção artística é de Guga Stroeter. A produção, de Renato Dias e T. Kaçula. Segundo Renato, compositor e um dos fundadores da Kolombolo, as características do samba paulista são percebidas na interpretação e na linha melódica das obras gravadas. A instrumentação dos CDs adota o padrão carioca, difundido pelo Brasil. A formação mais comum é de violões 6 e 7 cordas, cavaco, tantã, cuíca, pandeiro e surdo, apesar do emprego, aqui e ali, da viola, do trompete, do pífano ou do violoncelo. "O samba de São Paulo é mais carregado, triste, e menos festivo", diz Renato. "É duro, com o pé arrastado no chão, herança indígena, do jeito de dançar dos tupis." E relembra o amálgama entre as matrizes africana, europeia e indígena que resultou na batucada da terra da garoa. Para ele, o projeto abala "a dificuldade de São Paulo assumir a sua cultura, em vez de ser apenas um consumidor das produções culturais de outros Estados". "Queremos fazer divulgação, não estamos a fim de discutir qual samba no Brasil é o melhor", ele alerta.Já foram lançados quatro dos 12 discos. Um deles é o da Velha Guarda do Peruche, com 13 sambas e uma faixa que traz declarações de Carlão do Peruche e Décio Ferreira. Os intérpretes, entre eles Carlão e Denise Camargo, se revezam em composições antigas e criadas para o projeto, como Repicar dos Tamborins (Carlão), Filial de Samba (Geraldo Filme/Narciso Lobo) e Caqui, Celeiro de Bambas (T. Kaçula/Renato Dias).Toniquinho Batuqueiro é o primeiro disco-solo, com 14 faixas, deste compositor nascido em Piracicaba, em 1929. Ele havia gravado algumas obras, junto com Geraldo Filme e Zeca da Casa Verde, em Plínio Marcos em Prosa e Samba - Nas Quebradas do Mundaréu (1974), disco fora de catálogo. A presença da viola no CD de Toniquinho realça as origens rurais da batucada paulista. "E na voz ele carrega a tradição dos cururuzeiros e tambozeiros, foi com eles que aprendeu a gingar e a versar", diz Renato. Toniquinho, cego há 10 anos, gravou composições novas, como Kolombolo, parceria com Renato e T. Kaçula, e Bolo de Fubá, da mesma dupla, além de antigas, como Ditado Antigo, Tristeza, Saco Vazio (com Zeca), e sambas-enredo para as escolas Rosas de Ouro, Peruche e Unidos da Vila Maria.Toniquinho é um dos integrantes da Embaixada do Samba Paulistano, fundada em 1995 para preservar o carnaval da cidade. A Embaixada assumiu a indicação dos cidadão e cidadã do samba de São Paulo. É formada por mais de 20 integrantes das velhas guardas. O repertório do CD da Embaixada, entre outros, registra Biografia do Samba (Talismã/Tabu), Meu Sabiá (Mestre Feijoada) e Lá Vem Ela (Fernando Penteado).Completa a primeira leva o grupo Tias Baianas Paulistas, idealizado por Valter Cardoso, em 1994, com integrantes da Nenê de Vila Matilde, Camisa Verde e Branco e Vai-Vai, para valorizar o papel das baianas nas agremiações. No CD, comparecem Grupo da Barra Funda (Dionísio Barbosa/Luiz Barbosa), O Nosso Coração É Claridade (Tabajara Rosa), entre outros.Em 2010 serão lançados os oito CDs restantes: Velha Guarda da Nenê de Vila Matilde; Ideval Anselmo e Zelão; Velha Guarda da Rosas de Ouro; Tio Mário; Velha Guarda do Vai-Vai; Denise Camargo; João Borba e Velha Guarda da Unidos de Vila Maria. Segundo Renato, "o resumo do projeto é uma frase de Plínio Marcos: "Um povo que não ama e não preserva suas formas de expressão mais autênticas jamais será um povo livre".

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Samba mulherão

O segundo capítulo do nosso livro terá a temática do machismo, se o samba apresenta traços de uma cultura com valores mais “masculinos” ou não. Não pretendemos cravar nenhuma teoria, e sim questionar a existência de uma resistência ao trabalho feminino no samba e apresentar mulheres que se destacam nas rodas de samba – sejam musas, compositoras, intérpretes ou instrumentistas.
.
Para fomentar essa discussão, publicamos aqui matéria divulgada na Folha de S. Paulo de ontem, dia 8 de setembro, sobre a cantora Dhi Ribeiro. Além do preconceito dos autores com “cantoras de famílias endinheiradas” que “cantam aquele sambinha cool, bem comportado e masculino um tanto retrô que a mídia culta adora” (tema já discutido aqui, e que em nossa opinião o “azar é só deles”), notamos certa oposição ao perfil de Dhi.
.
Assim como Alcione, a cantora assume o papel de mulherão e mostra que pode sim, falar de seus desejos e satisfações como qualquer bom sambista homem faz. A reportagem ainda faz comparação com as funkeiras, que falam sem pudor sobre as regras que os homens tem que seguir para conquistá-las. Se essa barreira já foi quebrada no “pancadão”, porque não poderia vir para o samba, uma cultura democrática? Existe algum impedimento de que as letras sejam mais ousadas? Ou será que só os homens podem listar as mulheres que já se relacionaram e o que mais os agradou em cada uma delas?

.

- a seguir, reportagem da Folha de S. Paulo do dia 8 de setembro, publicada na Ilustrada.







Samba mulherão
Seguidora de Alcione, a estreante Dhi Ribeiro expõe voz feminina do samba e mostra afinidades com "cachorras" do funk
Carioca criada em Salvador e radicada em Brasília, Dhi Ribeiroacaba de lançar "Manual da Mulher", seu álbum de estreia

.
MARCUS PRETO DA REPORTAGEM LOCAL
.
A mulher em primeira pessoa. Não umazinha qualquer, mas a do tipo dominadora, que dita as regras que "seu homem" terá de seguir à risca se quiser continuar ali, desfrutando da felicidade de sua companhia. E que, em contrapartida, não tem o menor pudor em dividir com o mundo, letra por letra, todo o bem que ele faz por ela -principalmente na cama.Esses traços de personalidade não são muito diferentes dos que têm servido, nos últimos 20 anos, para descrever as devoradoras vozes femininas do funk carioca. Mas a moça aqui é outra. Um pouco mais recatada, fica no meio do caminho entre a "cachorra" funkeira e a fêmea de Chico Buarque.

Nascida em Nilópolis (RJ), criada em Salvador e radicada em Brasília, Dhi Ribeiro, 43, é o mais novo exemplar dessa espécie tão rara fora do universo do pancadão. Ela acaba de lançar "Manual da Mulher", seu álbum de estreia. Faz samba e tem Alcione como matriz.Talvez venha daí a abismal diferença entre ela e suas colegas de geração -Roberta Sá, Mariana Aydar ou Céu, por exemplo. Cantoras nascidas em famílias endinheiradas, bebem invariavelmente em fontes masculinas - e "cultas"- do samba: Paulinho da Viola, Cartola, Nelson Cavaquinho etc."Tento cantar minha história de vida", diz Dhi. "O samba está se elitizando muito, virando música de universitário -como foi a bossa nova. Quando era menina eu ouvia Agepê e amava. Por que agora a gente só pode ouvir Noel Rosa?""Esse filé maravilhoso que é meu bofe/ Quando me toca, a minha alma quase voa/ Meu menestrel diz que me ama em cada estrofe/ Quer sempre bis, me quer feliz, com a pele boa." Alguém imaginaria alguma das discípulas de Marisa Monte cantando versos como estes?Eles foram escritos por um homem, Paulinho Resende, 59 -o mesmo que vem abastecendo Alcione com material parecido desde pelo menos "Menino Sem Juízo", de 1979, e que já criou para ela verdadeiros clássicos do "samba mulherão", como "A Loba" e "Meu Ébano".O compositor ressalta o teor político que pode haver embaixo deles. "É uma espécie de um escudo, de autodefesa feminina", diz. "Apesar de estarmos em 2010, a mulher ainda é muito agredida -física e psicologicamente. Quando canta essas coisas, está revidando a isso."Não por acaso, também é dele a letra de "Eu Não Domino essa Paixão", samba que abre "Acesa", o novo álbum de Alcione.

Entre o samba e o tango, termina com os quase submissos versos: "Ele me confessou: depois de um botequim, de um chope, um futebol, um samba, enfim.../ Que o seu maior prazer é voltar pra mim". Como assim? O mulherão está manso?"Não. É uma submissão consentida", rebate Alcione. "Tenho que cantar para mulheres como eu as coisas que elas dizem para seus homens -ou, pelo menos, as coisas que gostariam de dizer. Ninguém teria coragem de cantar essas coisas há 30 anos." Nem têm hoje, ao menos em terreno sambista.

Quando foi entrevistada para essa reportagem, Alcione ainda não conhecia o trabalho de Dhi -sua primeira e, até agora, única discípula. Mas não se mostrou espantada com o fato de finalmente ter se tornado influência para a nova geração.Por que tanta demora para que isso acontecesse? "Essas meninas [as cantoras] são muito novas", disse. "Com o tempo vão se atrevendo a impor nossa vontade. Dizer que nós também temos querer, temos nossa maneira própria de amar. Sabe aquela frase que diz que é preciso endurecer, mas sem perder a ternura? É isso aí."
.........................................................................
Crítica
Novata escapa do "padrão Marisa Monte"
RODRIGO FAOUR ESPECIAL PARA A FOLHA

.
Alcione fez escola. Ainda bem! Não deixa de ser um alívio, pois parece que quase todas as cantoras que aparecem na MPB de hoje são genéricas de Marisa Monte. Só cantam aquele sambinha cool, bem comportado e masculino um tanto retrô que a mídia culta adora, mas que não comunica bem, não convence. Dhi Ribeiro, assim como a Marrom, canta a alma sexy-suburbana da mulher do povo com direito a gírias gays, voz potente e sangue negro. Esse jogo de sedução, aliado à sua voz forte intuitiva, tem um pouco daquela "sujeira" que está faltando à MPB contemporânea e apesar de uma forçação de barra ou outra mais apelativa de algumas letras que canta, suas mensagens soam verdadeiras.

O problema é que esse personagem que Dhi encarna pode até convencer principalmente nas quatro primeiras faixas, mas vai se perdendo até chegar ao final do CD. Aí entram sambinhas que repisam aqueles velhos clichês do gênero. Seguem alguns exemplos deles: "Chora que chorar faz bem", "Marinheiro me diz o segredo: por que tu não tens medo do mar?". Outros: "De que me vale o poder se tens o dom de encantar", "Já não sei cantar, nem falar de amor/ Choro pra abafar a dor". E aí a gente fica sem saber em que time joga a Dhi. Não que ela tenha de encarnar apenas uma personagem, mas fato é que ela ainda não parece versátil o suficiente em transmitir mensagens tão díspares: ser a mulher poderosa e tigresa em algumas e a bem comportada sofredora resignada em outras ainda que, verdade seja dita, transformar um amontoado de clichês em emoção verdadeira também não é nem um pouco fácil.

Alcione até consegue, mas Alcione é hors concours. Talvez seja um problema de produção, arranjo, de tentar moldá-la no estilo dos discos da Marrom. Fato é que ainda lhe faltam nuances de interpretação. Às vezes a música pede suavidade, languidez, grito. E será mesmo que Dhi é uma sambista? Ou cantaria melhor outros gêneros também? Avaliando isso, ela terá mais chances de se tornar uma intérprete ainda mais interessante. Pelo menos, ela canta com o útero. Porque dessas cantoras novas que cantam sem uma gota de suor e são apáticas sexualmente ou do gênero "sapa-folk", desprovidas de glamour, ninguém agüenta mais.
.

MANUAL DA MULHER
Artista: Dhi Ribeiro
Gravadora: Universal
Quanto: R$ 30, em média
Avaliação: regular
.
RODRIGO FAOUR é pesquisador musical e autor do livro "História Sexual da MPB" (ed. Record)

* foto retirada do site samba-choro




sábado, 5 de setembro de 2009

Alcione - Acesa


Essa semana, no dia 2 de setembro, o jornal O Estado de S.P. publicou uma matéria sobre o novo Cd de Alcione. Entre as novidades do novo projeto, o que nos chamou a atenção foi a fala da cantora sobre o samba: "O universo do samba é muito machista, eles acham que são os únicos que podem dizer o que querem." Essa mesma opinião tem sido por nós ouvida em diversas entrevistas, por vezes como crítica, mas também como observação e até mesmo aceitação dessa realidade. Esse será um dos tópicos que o nosso livro abordará: Cultura machista ou não?
Confiram a matéria de Roberta Pennafort:

Acesa, a Alcione dos sambas e do amor carnal
Ela fala com a desenvoltura e a graça de sempre, mesmo quando o assunto é a ligação com José Sarney

"Eu sou mesmo acessa, não sou mulher que se ache em qualquer fila do Bradesco!" Quem diz é Alcione, a mulher da voz potente, aplique ruico nos cabelos e unhas longas e decoradas. A brincadeira é com o nome do novo CD, Acesa (SonyBMG), título da faixa assinada por Telma Tavares e Roque Ferreira, que segue a linha mulher-madura-que-sabe-o-que-quer de canções como A Loba.
"Quem me tem assim acessa/ Fica sem defesa para o meu amor / Só come gostoso se for no meu prato/ Só sonha bonito no meu cobertor." Dama da Paixão (Jefferson Junior/Umberto Tavares) também é ousada: "Eu me preparei inteira para você/ Clima à luz de vela só pra te acendar." "O universo do samba é muito machista, eles acham que são os únicos que podem dizer o que querem. Mas que homem não gostaria de ouvir isso?", indaga a cantora maranhense.
Com show de lançamento previsto para outubro, em São Paulo (a escolha é de Alcione, que sente saudade do público da cidade), o CD tem 14 faixas, divididas entre sambas românticos (Eternas Madrugadas, de Fred Camacho e Cassiano Andrade, Não me Peça Pra Ficar, de Valtinho Jota e Andrea Amadeus, Quem dera, de Reinaldo Arias e Paulo Sergio Vallem, e Sinuca de Bico, de Claudemir, Elcio do Pagode e Serginho Meriti) e mais agitados (O Samba me Chamou, de Marquinho PQD e Sombrinha, com participação do grupo Revelação, Nair Grande, de Telma Tavares e Paulo Cesar Freital, Chutando o Balde, de Nei Lopes, com Wilson Simoninha).
O CD também tem outros ritmos - em Eu Não Domino Essa Paixão, que abre o disco, ouve-se até tango. Foi sugestão da cantora. "Adoro! Um dia ainda gravo um disco de tangos e boleros...", diz a Marrom, que também pensa num de blues e jazz, tendo como inspiração suas cantoras favoritas, Ella Fitzgerald, Aretha Franklin e Sarah Vaughn.
A divertida Casa da Mãe da Gente (Junior Rodrigues/Gilson Nogueira) foi trazida de um pagode de Manaus pelo produtor do disco, Jorge Cardoso. A toada Imperador Tocantis é do compositor maranhense Carlinhos Veloz. Encomendada pela novelista Glória Perez, Eu Vou Pra Lapa (Serginho Meriti/ Claudinho Guimaraes) foi lançada na novela Caminhos da Índia, na qual fez participação recente. O Sono dos Justus (Marcus Lima/Marcio Proença/Rodrigo Sestrem) tem letra delicada. Para cantar com ela no novo álbum, Alcione chamou o grupo simples assim. Usando da mesma lógica, fala do amigo e conterrâneo José Sarney. Conta que jamais cogitaria negar ao senador seu apoio, mesmo quando praticamente todo o País está contra ele.
"O Maranhão não tem culpa se o Senado virou um antro de fuxico. Eu tenho muita amizade com o senador. Quando a gente é amigo, é nas alegrias e nos infortúnios. Quem quiser que julgue José Sarney; eu não vou julgar. Ele nunca me deu um emprego, disso todo mundo sabe!"
De trabalho a cantora, de 61 anos, não foge mesmo. Em setembro, canta em Nova York e em Moçambique. Depois de São Paulo, estreia no Canecão. A entrevista acaba e alguém chama Alcione em seu aparelho de rádio, de cor vermelha. O toque é o tema da novela A Escrava Isaura: "Ierê Ierê..."